
Santo Agostinho, um dos maiores filósofos e teólogos da história, legou à humanidade ensinamentos profundos sobre a natureza humana, a moralidade e, especialmente, o amor. Em sua obra Confissões, ele faz uma análise profunda sobre a relação do ser humano com Deus, com os outros e consigo mesmo, propondo uma visão sobre como ordenar os amores na vida cotidiana. Para ele, a vida humana é marcada por um processo contínuo de amor e escolha, e a maneira como organizamos nossas afeições influencia profundamente nosso caráter e nossas ações. Essa ordenação dos amores não é apenas uma lição espiritual, mas também uma ferramenta prática para a educação de nossos filhos.
Neste artigo, vamos explorar como os ensinamentos de Santo Agostinho sobre a ordenação dos amores podem ser aplicados na educação diária dos filhos, ajudando pais a cultivar um ambiente de virtude, equilíbrio e propósito em suas casas.
1. Entendendo a Ordenação dos Amores
Para Santo Agostinho, o amor não é apenas um sentimento, mas uma força fundamental que orienta as escolhas e ações humanas. Ele ensina que o ser humano tende a se apaixonar e se apegar a várias coisas — desde bens materiais até pessoas e ideais. No entanto, Agostinho enfatiza que nem todos os amores são igualmente dignos e que é necessário ordená-los corretamente para evitar que os amores desordenados prejudiquem o espírito humano.
A principal lição de Agostinho é que o amor a Deus deve ser o primeiro e mais importante amor, o amor que deve reger todos os outros amores. Em seguida, vem o amor ao próximo e, finalmente, o amor a si mesmo, sempre subordinado ao amor de Deus. O problema surge quando os amores são invertidos: quando o amor a si mesmo ou aos bens materiais ocupa o lugar de Deus ou do próximo, levando ao egoísmo, à vaidade e à desordem moral.
2. Aplicando os Ensinamentos de Agostinho na Educação dos Filhos
A Prioridade do Amor a Deus
Para pais que desejam seguir os ensinamentos de Agostinho na educação de seus filhos, o primeiro passo é ensinar a importância de colocar Deus no centro de suas vidas. Isso não significa apenas a prática religiosa formal, mas a educação de um amor que transcenda as circunstâncias, que busque a verdade e a bondade em todas as coisas. Em casa, isso pode ser feito através de momentos diários de oração, de conversas sobre fé e moral, e da exemplificação de um amor a Deus que permeia as ações cotidianas.
É importante que os filhos vejam seus pais praticando a fé de forma autêntica e que compreendam que o amor a Deus é a fonte de todas as virtudes, sendo a base sobre a qual os outros amores devem ser construídos. Pais podem refletir com seus filhos sobre como a fé influencia suas decisões e como uma vida centrada em Deus pode trazer harmonia e paz.
O Amor ao Próximo: Cultivando a Empatia e o Altruísmo
O segundo amor ordenado por Agostinho é o amor ao próximo. Agostinho ensina que a verdadeira compreensão do amor a Deus é expressa no cuidado e respeito ao outro. No contexto familiar, isso se traduz na construção de relacionamentos baseados em respeito mútuo, generosidade e serviço. Os pais podem educar seus filhos para entender que o amor ao próximo não se limita à convivência com familiares, mas se estende à humanidade como um todo.
Os pais devem cultivar a empatia nos filhos, incentivando-os a se colocarem no lugar do outro, a entenderem as necessidades e sentimentos alheios, e a serem gentis e solidários. Em casa, isso pode se dar por meio de exemplos práticos, como ajudar um amigo em dificuldade, apoiar um irmão em um momento de necessidade ou participar de atividades de voluntariado.
O Amor a Si Mesmo: A Importância do Equilíbrio
Por fim, Agostinho reconhece a importância do amor a si mesmo, mas enfatiza que este amor deve ser sempre subordinado ao amor a Deus e ao próximo. No contexto educacional, isso significa que os pais devem ensinar aos filhos a importância do autocuidado, do respeito próprio e da autoestima, mas sempre no contexto de serviço aos outros e de busca por uma vida virtuosa.
Os filhos precisam entender que um amor saudável por si mesmo não é egoísta nem egocêntrico, mas envolve o cultivo de qualidades como a humildade, a gratidão e a sabedoria. Isso pode ser promovido encorajando-os a desenvolver suas habilidades, a cuidar de sua saúde física e emocional, e a buscar uma vida equilibrada, mas sempre com o entendimento de que o amor a si mesmo é mais completo quando se conecta ao amor pelos outros e por Deus.
3. A Prática da Ordenação dos Amores no Dia a Dia
Implementar a ordenação dos amores na vida cotidiana exige esforço, consistência e reflexão constante. Pais podem ajudar seus filhos a ordenar seus amores através de:
- Conversas sobre prioridades: Discutir o que é realmente importante na vida e como suas escolhas refletem esses valores. Por exemplo, perguntar aos filhos como podem ajudar um amigo ou como podem colocar Deus em primeiro lugar nas decisões diárias.
- Exemplificação de atitudes virtuosas: Ser um modelo de amor a Deus, amor ao próximo e amor a si mesmo. As atitudes dos pais falam mais alto que palavras, e as crianças aprendem observando seus pais.
- Desafios práticos de virtude: Criar situações e atividades em família que envolvam ajuda ao próximo, respeito mútuo e reflexão sobre a fé. Isso pode incluir atividades de serviço comunitário, leituras de histórias edificantes e discussões sobre moralidade e fé.
4. Conclusão: O Amor Ordenado como Fundamento de uma Vida Plena
A ordenação dos amores, conforme ensinada por Santo Agostinho, é mais do que uma lição filosófica; é uma prática vital para o desenvolvimento humano e espiritual. Ao aplicar esses ensinamentos na educação de nossos filhos, ajudamos a formar indivíduos com um senso claro de propósito, que sabem que o amor verdadeiro e duradouro deve ser colocado na ordem certa. Quando nossos filhos aprendem a amar a Deus acima de tudo, a cuidar dos outros com generosidade e a respeitar a si mesmos, estamos preparando-os para viver vidas plenas, equilibradas e moralmente orientadas.
Portanto, ao educar com base na ordenação dos amores, pais não apenas transmitem valores, mas ensinam o caminho para uma vida de virtude, felicidade e verdadeira realização.
