As Três Regras Fundamentais da Leitura Segundo Hugo de São Vítor

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Na obra Didascálicon: Da Arte de Ler, Hugo de São Vítor, um dos mais influentes mestres da Idade Média, apresenta um dos pilares fundamentais para o aprendizado: as três regras da leitura. Essas regras não são meras orientações técnicas, mas um guia para a busca da sapiência, que ele define como a mente divina e o bem perfeito. Para os pais que educam seus filhos segundo a metodologia clássica, esses princípios oferecem um roteiro claro e ordenado para a formação intelectual e moral das crianças.

Hugo de São Vítor afirma que “são três as regras mais necessárias à leitura: saber o que se deve ler, em que ordem se deve ler, como se deve ler.” Vamos explorar cada uma dessas regras e compreender como aplicá-las no ensino clássico.


1. Saber o que se deve ler

Hugo ressalta que nem todos os textos possuem o mesmo valor para a formação do intelecto e do caráter. Ele orienta que o leitor deve priorizar obras que conduzam à sapiência e à compreensão das verdades superiores. No contexto da educação clássica, isso significa selecionar textos que instiguem o pensamento crítico, a virtude e a ordem moral.

Para os pais, a escolha dos textos requer discernimento. As escrituras sagradas, os grandes clássicos da literatura e as obras filosóficas que abordam a natureza humana devem ocupar o centro da formação. Assim como Hugo de São Vítor ensina a “ouvir todos e não desprezar doutrina alguma”, os pais devem valorizar uma educação ampla, que não rejeite o conhecimento, mas saiba hierarquizá-lo.


2. Em que ordem se deve ler

A leitura é um processo progressivo. Hugo defende que os textos devem ser lidos na ordem certa, respeitando o desenvolvimento intelectual do leitor. Ele compara o aprendizado a uma construção: é necessário estabelecer alicerces sólidos antes de construir andares mais altos.

No ensino clássico, essa progressão se reflete no trívio (gramática, lógica e retórica), que prepara o aluno para compreender as estruturas da linguagem e do pensamento, e no quadrívio (aritmética, música, geometria e astronomia), que desenvolve o raciocínio e a percepção da harmonia do universo. Para os pais, isso significa guiar os filhos através de textos e disciplinas de dificuldade crescente, sem apressá-los a compreender aquilo para o qual ainda não estão prontos.


3. Como se deve ler

A terceira regra enfatiza o método. Hugo destaca que a leitura não deve ser superficial, mas profunda e meditativa. Ele recomenda que o leitor “não despreze escrito algum, pessoa alguma, doutrina alguma, pois nenhum texto há que não tenha algo a ser aproveitado quando é lido no tempo e no modo apropriado.”

Na prática da educação clássica, isso implica ensinar as crianças a lerem com atenção, refletirem sobre o conteúdo e aplicarem o que aprenderam. A leitura não é apenas um ato de consumir informação, mas um exercício de formação moral e espiritual. Os pais podem incentivar a prática da meditação sobre o que foi lido e o registro das ideias em cadernos ou diários.


Conclusão

As três regras de Hugo de São Vítor fornecem um fundamento essencial para a leitura no contexto da educação clássica. Saber o que ler, em que ordem e como ler são princípios que estruturam o aprendizado de maneira disciplinada e direcionada ao bem maior: a busca da sapiência e da virtude.

Para os pais que adotam essa abordagem, essas regras não são apenas sugestões, mas um chamado à formação integral de seus filhos. Seguindo o exemplo de Hugo, a educação clássica torna-se um caminho para a contemplação do divino e para a restauração da verdadeira humanidade.

Autoria

Samara Lima

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